quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Mike Patton, a delicada arte de fazer música

Mike Patton
(latim versatilis, -e) 
adj. 2 g.
1. [Figurado]  Propenso a mudar. = INCONSTANTE, VOLÁTIL, VOLÚVEL
2. Que tem várias qualidades ou utilidades ou que pode fazer ou aprender várias coisas.= POLIVALENTE. 
Mike Patton - 1000 vozes e 1000 talentos.
(Fonte: 
http://tenhomaisdiscosqueamigos.virgula.uol.com.br)

Se tem alguém que é sinônimo de versatilidade é Mike Patton. O cara tem uma infinidade de estilos de canto. Vai dos antigos vocais agudos que usava no über hit Epic até a vozes mais graves, sussuros, gritos, guturais e o que for mais necessário para fazer música. Não à toa ele é conhecido como "Mr. A Thousand Voices".

Mr. Bungle - Mr. Bungle.
(Fonte: http://upload.wikimedia.org)
Talvez consciente do seu próprio talento, o cara nunca parou quieto e vez basicamente todos os tipos de música possíveis. Rock, funk metal, bossa nova, pop italiano dos anos 60, jazz, grindcore, trip hop... díficil é dizer um estilo em que Patton não tenha colocado seus vocais. Tem projetos ou parcerias com gente que vai de Bebel Gilberto, Norah Jones e Bjork até Dave Lombardo (Slayer), Duene Denilson (The Jesus Lizard) e Buzz Osbourne (The Melvins), tendo uma discografia extensa e absurdamente variada. Neste artigo destaco e comento alguns de seus trabalhos extra-Faith No More que mais me prenderam a atenção e que são presenças frequentes no meu mp3 player.

Mr. Bungle - Mr Bungle (1991): Primeira banda de Patton. Um funk metal nervosíssimo com muitos toques de ska e experimentalismo. Se o Red Hot Chilli Peppers (da década de 80) se encontrasse com o Frank Zappa e resolvesse colocar suas distorções no máximo, talvez saísse algo parecido. Este é o único outro álbum da carreira do vocalista em que ele usa a voz mais aguda que conhecemos do Real Thing (Faith No More). Ouça: Quote Unquote e My Ass Is On Fire.

Fantômas - Director's Cut.
(Fonte: 
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Fantômas - Director's Cut (2001). Fantômas foi a primeira banda não-FNM do Patton que tomei contato. Na época eu alugava CDs numa lojinha e me deparei com o primeiro álbum dos caras na estante. Imagina minha empolgação ao ver na capa o nome do músico ao lado do ultra-baterista Dave Lombardo! Imaginei que aquilo seria uma mistura de FNM com Slayer. Aluguei, fui correndo pra casa e... não entendi nada. Aliás, até hoje acho os trabalhos do grupo difíceis de serem digeridos. É com (quase) toda a certeza a banda mais noise do cara. A exceção é este Director's Cut, que traz versões pesadíssimas de trilhas sonoras de filmes, em sua maioria antigas produções de suspense e terror. Esse sim, soa como um híbrido entre a violência do Slayer e a esquizofrenia do FNM da época Angel Dust. Todas as faixas são absolutamente imperdíveis! Ouça:  Der Golen e Rosemary's Baby.

Lovage - Music To Make Love To Your Old Lady By
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Lovage - Music To Make Love To Your Old Lady By (2001): Perfeito pra tocar em todos os cabarés da sua cidade. Neste álbum Patton se uniu à vocalista Jennifer Charles e ao DJ Kid Koala, sob produção de Dan the Automator, para produzir música altamente sexual. O negócio aqui é alguma coisa entre o trip hop e o lounge, com algum toque setentista, e letras safadas e sarcásticas. A primeira associação que vem à cabeça é com o Portishead, se a banda se enchesse de Caracu e ovo de codorna. É difícil ouvir este álbum sem se imaginar em um daqueles bares de strip que sempre aparecem em filmes norte-americanos. Ouça: Sex (I'm A) e Book Of The Month

Tomahawk - Mit Gas.
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Tomahawk - Tomahawk (2001) e Mit Gas (2003): Neste grupo o vocalista está ao lado de Duane Denison, guitarrista do The Jesus Lizard, e do poderoso baterista John Stainer (Helmet, Battles). O baixista varia: nestes álbuns foi Kevin Rutmanis, que já tocou com o Melvins. Imagino que deva ser a banda que a maioria dos fãs do FNM deve preferir, já que é bem menos experimental e bem mais parecido com sua banda mais famosa do que os outros projetos do vocalista. Pra mim o Tomahawk, em seus dois primeiros trabalhos, soa mais ou menos como o FNM em seus tempos de King For A Day. Ouço Rape This Day e escuto ecos de Digging The Grave, por exemplo. Não à toa é a segunda banda dele que mais ouço (não preciso dizer a primeira, certo?). O que mais diferencia as duas bandas são interessantes inserções eletrônicas e batidas quebradas de bateria que parecem ter saído de um álbum do Prodigy (porém tocadas por bateria "de verdade"). Ouça: Laredo, Capt. Midnight e Mayday.

Peeping Tom - Peeping Tom.
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Peeping Tom - Peeping Tom (2006): Na época do lançamento, eu li que Mike andava achando a música radiofônica uma porcaria e resolveu fazer seu próprio álbum pop. Com colaboradores como Norah Jones, o grupo Massive Attack e Bebel Gilberto, o vocalista gravou um CD de pop, rock, rap e trip hop. Você, fã de rock e metal, teve calafrios agora, né? Vou te dizer, o CD é incrível! Bem tocado, bem produzido, criativo... animal! O álbum está anos-luz à frente do que se ouve pelas rádios por aí. Os arranjos são de extremo bom gosto e todas as músicas têm bastante peso, provenientes de riffs de guitarra ou das intensas linhas de baixo e batidas de bateria. Esse trabalho prova que o pop não precisa ser bunda mole. Ouça: Sucker e Kill The DJ.

Tomahawk - Anonymous.
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Tomahawk - Anonymous (2007): Não aguentei e coloquei outro àlbum do Tomahawk na lista! Este CD é completamente diferente dos dois anteriores. Nele a banda resolve finalmente assumir o lado índio que o nome da banda indica e faz um trabalho conceitual baseado em músicas nativo-americanas. O resultado não poderia ser melhor. Longe do metal alternativo das gravações anteriores (apesar de uma ou outra faixa ainda ser mais pesada e guitarrística), a banda cria aqui canções belíssimas, misturando cantigas rituais com música mais moderna. Ouça: Ghost Dance e Crow Dance.

O cara produz demais, nem ele próprio deve se lembrar de todos os projetos em que esteve envolvido. Seus companheiros de bandas e estilos musicais sempre mudam, a única constante em seus trabalhos é a qualidade. Onipresente e onipotente Mike Patton pode ser considerado de fato um deus da música, espalhando seu brilhantismo onde quer que se meta. 

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