quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Baroness - Yellow And Green (2012)


Verde e amarelo: caos e progressivo.
(Fonte: http://baronessmusic.com/)
Esse foi como um livro que julguei pela capa. Ao ver em algum site a belíssima ilustração do Blue Record em 2009, fiquei imediatamente tentado em ouvir o som que se escondia por trás daquele desenho fantástico, e assim fiquei imediatamente fã desta banda inclassificável.

Esperei ansiosamente pelo lançamento deste Yellow And Green desde que li a primeira notícia sobre ele. Passei algumas semanas entrando todo dia no newalbunsreleases.com pra ver se vazava. Após tanto desespero, finalmente chegou o momento de ouvir a bolacha. Esperei o maldito minuto antes de fazer o download, escrevi o captcha, cliquei para iniciar o download. Vem ni mim, Baroness! Infinitos 15 minutos depois, emocionado, finalmente apertei o play.

Que decepção.

Não consegui digerir a proposta do trabalho, assim de cara. Achei prog demais. Aquela coisa da expectativa, sabe? Foi como quando você dá aquela garfada numa lasanha e percebe que, na verdade, era beringela.

Cadê uma porradaria tipo A Horse Called Golgotha, ou War, Wisdom And Rhime? 

Escutei umas 2 vezes, fechei a cara e deixei empoeirando no HD.

Até que uns tempos depois quase a banda foi desta para melhor, pior, para a mesma ou para o nada, dependendo dos seus conceitos espirituais/religiosos.
Um acidente terrível aconteceu com o ônibus da banda na Inglaterra e quase que tivemos uma nova tragédia Cliff Burton style.


A parte boa é que minha atenção se voltou para a banda de novo e para o cd que provavelmente ia ficar sem ser ouvido tão cedo.

Meu irmão, como ouvir sem expectativas muda tudo. Ou quem sabe foi o tempo digerindo que mudou minha opinião. Não sei, fato é que agora acho o melhor registro da banda e, até o presente momento, disparado o melhor de 2012.

Sim, a banda está soando bem diferente. O vocal John Baizley canta de forma mais limpa e a banda abraçou de vez a faceta rock/metal progressivo que já havia aparecido de forma bem mais discreta no álbum anterior. Mas isso não é pejorativo de forma alguma. Em Yellow and Green o Baroness soa maduro, eclético e desafiador como nunca.

Engraçado é que a primeira faixa (Yellow theme) e a última (If I Forget thee, Lowcountry) são instrumentais bem insossas, que você mal percebe que estão tocando. O álbum ficou parecendo uma delicioso hambúrguer de picanha de 400g em meio a duas rodelas finas de pepino.
Passada a instrumental que abre os trabalhos, a banda entra com tudo em Take my bones away, cujo clip você pode ver abaixo:


A faixa é uma das mais diretas do álbum, um stoner/sludge metal de responsa, não tão violento como as faixas do Blue Record, soando mais como se o Foo Fighters tivesse deixado suas guitarras na musculação por uns anos.

Blue Record - É lindo ou não?
(fonte: http://black-legion-shop.de)
Gosto bastante da música, mas é a partir da faixa seguinte, March To The Sea, que o negócio realmente pega fogo. O belo dedilhado da introdução dá lugar a um baixo poderoso e a um interessantíssimo riff de guitarra. O refrão então nem se fala, com seu fraseado de guitarra que poderia ter saido de um antigo LP do Iron Maiden acompanhando a bateria pesada e as bonitas harmonias vocais.

Daí até a última música deste primeiro cd do álbum, é só musicão. Little Things, com seus riffs dedilhados e diferentes camadas sônicas, é uma daquelas músicas que, cada vez que ouve, você descobre uma coisa nova. Já Twinkler é uma lindíssima balada folk. Imagino que ela serviria de forma soberba como trilha sonora de um bom road movie.

A longa introdução de Cocainium dá início à uma série de músicas que eu classificaria como Pink Floyd ogro. Baixo pulsante, riffs pesados, passagens psicodélicas se misturam de forma totalmente orgânica nesta música.

Back Where I Belong dilui a parte ogra da faixa anterior, acentuando mais a tendência prog e psicodélica com seus interessantes efeitos de guitarra, enquanto Sea Lungs toma o sentido oposto, apostando mais no peso das guitarras. Seu riff principal, apesar de simples, consegue passar peso e melodia de uma forma impressionante. O forte refrão torna a música ainda mais memorável.

Este primeiro cd se encerra com outra da série "Pink Floyd ogro", Eula. Enquanto as guitarras soam leves e climáticas, o baixo imprime um peso absurdo à faixa. A progressão da música se dá de forma incrível e o ouvinte consegue sentir sua adrenalina aumentar mais e mais, conforme as guitarras vão se tornando mais aparentes. Duvido que você não vai passar o resto do dia cantarolando "And I can’t forget the taste, Can’t forget the taste of my own tongue".

O segundo cd abre com a melhor instrumental de todo o albúm, a Green Theme. A inesperada entrada da bateria é praticamente um soco na cara. Não tem uma vez que eu escute essa faixa, e que eu não abra um sorriso e comece a balançar a cabeça nesta parte.

Assim como no disco anterior, a primeira faixa pós intro, Board Up The House, é um eficiente stoner/sludge metal, soando como algum rock clássico dos anos 70 que havia sido perdido por aí. É uma faixa simples, mas extremamente eficiente.

Ao ouvir Foolsong, procurei saber se o David Gilmour tinha participado da composição. É uma faixa que evoca Pink Floyd em cada segundo. A seguinte, Collapse, mantém a pegada puramente progressiva, entretanto soando mais moderna com as eficientes inserções eletrônicas.

E é assim que chegamos ao momento alto do álbum. Psalms Alive. A bateria, perdida entre uma batida militar e algo mais eletrônico, faz a cama para os acordes limpos de guitarra e as harmonias vocais que soam folk. A música vai assim até a metade, como em um primeiro ato de filme, te preparando para o que vai acontecer em seguida. Calmaria antes da tempestade, saca? Quando os riffs distorcidos entram você se sente em meio a um estouro de boiada. Até agora não consegui ouvir essa música sem ter que repeti-la instantaneamente pelo menos mais uma ou duas vezes em seguida.
As caras de nerd enganam.
(Fonte: http://www.blogcdn.com/)

Strechmaker, a bonita instrumental que se segue, soa mais como uma vinheta entre a Psalms Alive e a próxima, The Line Between. Música essa que começa com riffs pesadíssimos, parecendo que vai ser uma desgraceira como músicas de álbuns passados, entretanto, após essa introdução o que ouvimos é um ótimo hard rock, destes perfeitos para se dirigir por uma estrada. Assim como a Board Up..., essa faixa também parece ter vindo diretamente dos anos 70.

Só agora notei o quanto já escrevi. Mas é que realmente estou apaixonado por este trabalho, e isto, na verdade, foi mais uma carta de amor do que um review.

P.S.: O responsável pelas ilustrações da banda é o próprio vocalista/guitarrista John Baizley. Pra quem se interessar mais pelo trabalho dele como ilustrador, pode ver no site http://aperfectmonster.com/.

Álbum: Yellow And Green
Artista: Baroness
Lançamento: 2012
Gravadora/Distribuidora: Relapse Records

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