domingo, 17 de dezembro de 2017

Star Wars - The Last Jedi


Desde que saí da sala de cinema tenho tido dificuldade em definir o que achei d'Os Últimos Jedi, já que este novo episódio Star Wars parece dois filmes em um. O primeiro, envolvendo Rey, Luke, Kylo Ren e Snoke é perfeito. O segundo, principalmente no que se refere ao arco de Finn e Rose, sem foco, confuso.

A decisão do diretor e roteirista Rian Johnson de começar o filme exatamente de onde o anterior havia parado não poderia ter sido mais acertada. Afinal, Rey acabara de encontrar Luke, enquanto a guerra fria entre Primeira Ordem e Resistência havia se tornado uma guerra real, com os vilões, apesar de terem perdido sua base, tendo descoberto o esconderijo de seus inimigos.

E o primeiro ato coloca tudo em movimento de forma incrível. Luke não é o mestre acolhedor que Rey esperava, enquanto a Resistência descobre que não conseguiu fugir da Primeira Ordem e se encontra em situação desesperadora. E é a partir daí que o filme se divide entre um dos melhores da saga e um dos menos inspirados.

Em seu segundo ato Os Últimos Jedi é uma montanha-russa. Enquanto tudo que envolve o relacionamento entre Rey e Luke é magistral, parece que não havia muito o que fazer com Finn, e sua jornada parece deslocada com o restante do filme. Vamos dos empolgantes momentos na ilha para uma história sem a menor graça em Canto Bright, com o arco de Poe Dameron e da frota da Resistência no meio, nem tão boa, nem tão ruim.

Acredito que este é o filme da série em que os personagens tem suas personalidades mais trabalhadas e aprofundadas. O arco de Luke, por exemplo, tanto dentro do filme, quanto visto em sua totalidade desde o Nova Esperança, se torna completo e emocionante. Seu conflito entre ser um mito, um mestre e alguém com fracassos o humaniza e o deixa mais interessante do que jamais foi. 

Fico muito contente por Rian Johnson não ter escolhido o caminho óbvio que era ter transformado Skywalker em uma espécie de Obi Wan 2, um mestre bonzinho que acolheria Rey prontamente e lhe mostraria todo o caminho. A subvertida dinâmica entre o jedi e sua "aprendiz" é um dos grandes pontos altos da série. 

O passado entre o mestre e Ben Solo é outro momento muito bem trabalhado. Luke, como um mestre falho, acaba por ter um momento de fraqueza que deixa uma cicatriz profunda tanto em seu pupilo quanto em si mesmo, definindo as motivações de ambos. Enquanto Ben tem sua queda para o lado negro, Luke se torna um eremita. Contrariando as expectativas dos fãs, ele não estava na ilha procurando qualquer resposta, ele apenas queria morrer, levando consigo todos os erros dos jedi. Neste sentido The Last Jedi está à parsecs de seu predecessor. Enquanto o Force Awakens manteve Han e Leia exatamente como eram na trilogia original, este novo episódio evolui e transforma o personagem.

Vi muita gente reclamando sobre o poder "holográfico" de Skywalker, mas achei uma decisão genial. Além de demonstrar um poder imenso (e novo) do jedi, esta habilidade ainda evitou que ele fosse morto pelo sobrinho. Luke, com suas esperanças renovadas, fez um último grande esforço a fim de dar tempo para os  derradeiros integrantes da Resistência fugirem e se "torna um com a Força" em paz, em um momento belíssimo. Não consigo imaginar um desfecho melhor para o personagem (fora o fato dele não ter outro jeito de chegar até Crait, uma vez que não tinha uma nave).

A jornada de Rey mistura um pouco aquela de Luke em O Império Contra Ataca com a do O Retorno de Jedi. Uma das decisões mais acertadas do roteiro foi de fazer parecer que haveria um romance entre ela e Ben, nos fazendo acreditar que um dos dois poderia mudar de lado. A escalada da relação dos dois foi muito bem feita, culminando nas maravilhosas cenas se passando na sala de Snoke, que para mim são o grande momento do filme e uma das melhores cenas da franquia toda.

Neste episódio, Snoke se tornou facilmente um dos maiores vilões de Star Wars. Poderoso, arrogante, manipulador, assustador. Muita gente reclama de não terem explicado quem ele era. Não sinto falta nenhuma disso, afinal seu propósito na história foi bem definido. Não acho que o filme tenha que nos explicar cada minúcia daquele universo, algo pode ficar nas entrelinhas ou na imaginação dos fãs. Afinal, quem era o Imperador na trilogia original? A inesperada morte do supremo líder foi uma virada incrível da história, além de contribuir para tornar Ben Solo no mais tridimensional e interessante personagem dentre todos na série até hoje. Kylo Ren finalmente saiu da sombra de Darth Vader, já que enquanto seu avó caiu na "tentação" da luz ao matar seu mestre, Ben abraçou de vez o lado negro.

Kylo Ren, traído por ambos os mestres, tem uma motivação palpável para seus atos. Acreditando ser especial por causa de seu poder e sua linhagem, o personagem é impulsionado por uma vontade de encontrar um lugar de destaque na galáxia. Temido por Luke, manipulado e humilhado por Snoke, ele se torna consumido por um sentimento de vingança. Sua busca era matar ambos os mestres. E agora conquistar toda a galáxia para se auto-afirmar e provar a todos seu poder e seu valor. Fico ansioso para ver como Kylo Ren vai ser como Líder Supremo da Primeira Ordem no Episódio IX (e já tenho certeza de que Hux vai trai-lo no fim).

Aposto que muitos fãs ficaram frustrados com a revelação sobre os pais de Rey, afinal esperavam que ela fosse uma Skywalker, Kenobi ou que tivesse um super background. Mas não, ela não é ninguém. Seus pais a venderam por bebida. Ao meu ver essa foi a melhor origem possível! Star Wars sempre passou uma ideia de que tudo estava interligado e a galáxia parecia ter meia duzia de pessoas. A garota ter outra origem espanta um pouco essa noção. Fora isso, sua origem humilde mostra que grandeza pode vir de qualquer lugar, o que contrasta sua história com a arrogância de Kylo Ren, antagonizando mais ainda os personagens.

Enquanto isso, temos "outro filme" se passando paralelamente, aquele sobre Finn e Rose no cassino e sobre Poe Dameron e a Resistência fugindo. Enquanto a sequência de Poe parece ao menos estar conectada dentro da história do filme, a aventura de Finn passa um sentimento de "enchimento de linguiça". Neste núcleo do Last Jedi praticamente nada funciona e é mais irritante do que instigante acompanhar esta jornada. Sério que não dava para Finn fazer mais nada de interessante? Precisávamos mesmo ter perdido tanto tempo no cassino? Por fim, todo arco dos personagens secundários só serviu para diluir a excelente história do lado "jedi" do filme.

Ainda que a mensagem seja bonita (os ricos ganhando dinheiro com a guerra e pouco se preocupando com os menos afortunados na galáxia), nestes arcos do filme praticamente nada funciona. Há pouco para o espectador se engajar e as cenas deixam uma sensação estranha, de falta de propósito e emoção. E mais problemático é que, devido à alternância entre os núcleos, a falta de emoção começa a vazar para o núcleo principal.

Por sorte, a partir do momento em que as histórias se cruzam com a chegada de Rey e também de Finn, Rose e DJ à nave de Snoke o filme deslancha. Dali para frente é momento épico atrás de momento épico. Como já disse antes, toda a história passada na sala de Snoke é tudo que Star Wars tem de melhor: surpreendente, emocionante, divertida. E por fim, Luke voltando uma última vez para confrontar o sobrinho é tão épico quanto a cena de Darth Vader em Rogue One.

Arcos brilhantes unidos com outros sem foco acabam por criar uma obra incompleta e conflitante, que ao mesmo tempo em que trás os melhores momentos de Star Wars da era Disney, trás também os piores. Quando penso sobre o lado jedi do filme fico admirado e achando que é um dos melhores Star Wars de todos, quando penso nos coadjuvantes, fico frustrado. No fim das contas The Last Jedi é um ótimo filme, mas que ao mesmo tempo deixa um gosto de "poxa, como poderia ter sido melhor". Nota 10 para o núcleo jedi (nível trilogia original), nota 5 para os demais núcleos (nível prequels)

Por enquanto "o melhor Star Wars depois do Império Contra Ataca" que todo mundo espera ainda é O Retorno de Jedi.

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