quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Robert Plant no século XXI

Tenho uma teoria que qualquer banda ou artista tem uma "vida útil" de uns 10 anos no máximo. Sério, pensa em algum grupo ou artista que você curta bastante, tem 96,4% de chance de que seus albuns preferidos estejam na primeira década da carreira do dito cujo. Tem dois tipos mais comuns de envelhecimento pras bandas, ou elas começam a fazer discos genéricos, emulando seus primeiros sucessos eternamente, ou tentam se reinventar completamente, ficando descaracterizadas. Assim, foi com grata surpresa que descobri que Robert Plant foge a regra e tem envelhecido de forma totalmente digna.

O deus dourado.
(Fonte: http://brasilia.deboa.com)

A não ser que você tenha morado em um universo paralelo nos últimos 40 e poucos anos você sabe que Robert Anthony Plant foi vocalista do Led Zeppelin. Este escriba considera que este foi o grupo de rock definitivo. O baterista ogro, o baixista caladão e enigmático, o guitarrista prodígio e o vocalista talentoso e afetado, se alguém personificou todos os arquétipos de uma banda de rock foi o Led. Os músicos eram incríveis, as performances matadoras e as composições maravilhosas. Ok, tem essas histórias de plágio, mas para pra ouvir as músicas acusadas. Uma ou outra música foi realmente chupada (e, em geral, bastante melhorada) de alguém, mas grande parte desses supostos plágios são forçados. Uns tem pouquíssimo a ver, enquanto outros tem 1 ou 2 segundos de homenagem em 6 ou 7 minutos de música. Acredito que essas histórias até servem para aumentar toda a mitologia da banda, ao lado das acusações de ocultismo e afins.

Bem, sobre o Led não tem mais o que escrever. Um montão de gente já declamou sobre as incríveis qualidades do quarteto inglês e qualquer coisa que eu falasse aqui seria redundante. O negócio aqui é sobre o Plant, já que essa semana ele inicia sua tour pelo Brasil, e mais especificamente ainda sobre os albuns lançados de 2001 pra cá.

O Led acabou em 1980 após a morte do baterista monstro John Bonham e já em 1982 Plant dá o chute inicial em sua carreira solo com o album Pictures at Eleven. Sinceramente? Eu nunca tinha me interessado em ouvir nada dele na fase pós-Zep. Isso só mudou quando ele lançou o album Band of Joy em 2010. Achei curioso ele estar resgatando o nome de sua primeira banda no album e resolvi dar uma chance pra bolacha. Meu amigo, que surpresa! Já nos acordes iniciais de Angel Dance eu vi que o negócio ali não era brincadeira. Folk, rock, blues e country se misturam em músicas excelentes. Os arranjos são todos de arrepiar desde de releituras de músicas tradicionais como Satan Your Kingdom Must Come Down ou como em Silver Rider e Monkey, os covers da desconhecida e atual banda indie rock Low.

É obvio que o cara já não tem mais a potência vocal que o caracterizava nos anos 70, mas seu timbre inconfundível e o feeling por trás de cada verso estão lá.

Assim como Rob Gordon, o personagem de John Cusack no ótimo filme Alta Fidelidade, eu também tenho mania de fazer listas, e em 2010 coloquei, sem pestanejar, Band of Joy como meu CD preferido lançado naquele ano.

Ainda assim, não me ocorreu de procurar por outros álbuns do Plant. E novamente tudo mudou um dia em que liguei a tv aleatoriamente em um canal de música, onde estava sendo apresentado um show dele de 2005. O que era aquilo! Que apresentação fantástica! Apesar de não conhecer praticamente nenhuma música, fiquei hipnotizado pela competência, qualidade e carisma que emanavam de Plant e sua banda. Mal acabou o show na tv e corri pra procurar a discografia do cara na internet. Por ser muito extensa, resolvi baixar apenas uma parte para poder apreciar melhor. Assim, decidi me ater aos CDs mais recentes, baixando apenas os trabalhos Dreamland (2002), Mighty Rearranger (2005) e o elogiadíssimo Raising Sand (parceria com a cantora de bluegrass Alisson Krauss, de 2007).

Raising Sand é seu trabalho mais delicado, com um som mais etéreo, a não ser pelo interessantíssimo folk metal Nothin'. Além desta, destaco a faixa de abertura Rich Woman, Sister Rosetta Goes Before Us e seu lindíssimo arranjo de banjo, Fortune Teller com suas guitarras cheias de efeitos e a melancólica Your Long Jorney. O álbum evoca sentimentos de velho oeste o tempo todo. Se existe sertanejo universitário, isso aqui é um sertanejo com 3 pós-doc em Oxford.

Belas capas para belos trabalhos.
(Fonte: Wikipedia)

E então ouvi Dreamland e Mighty Rearranger. Não vou separar os dois aqui, considero trabalhos-irmãos, onde Plant usou de forma madura e inteligente elementos novos e antigos ao mesmo tempo. Ele teve a manha de juntar folk, blues e country antigos a elementos eletrônicos, progressivos e até a heavy metal de forma orgânica, sem que sua música ficasse datada demais ou sem forçar uma modernidade exacerbada. Tenho dificuldade até de fazer algum destaque aqui, cada música tem sua cara própria, transpirando criatividade e atitude. Não tenho pudor nenhum em dizer que estes estão entre os melhores álbuns que Plant gravou na vida. Sim, melhores até do que alguns registros feitos com o Zepp. O cara conseguiu, com mais de 50 anos de vida e mais de 30 de carreira, ser mais inventivo e produzir trabalhos muito mais significativos do que praticamente todos os artistas novos do século XXI. Considero que esses CDs estão facilmente num TOP 20 ou 30 de tudo que foi produzido de 2001 pra cá.

Sábado agora (20/10/12) será um dia histórico para mim, verei ao vivo o golden god do rock aqui em BH, um dos poucos artistas que soube envelhecer com dignidade, respeitando sua história, porém sem parar no tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário