quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Fim da Infância - Arthur C. Clarke

Rei Arthur da ficção científica.
(Fonte: http://images1.wikia.nocookie.net)

Não deve existir título mais improvável para uma ficção científica sobre a chegada de alienígenas à Terra do que "O Fim da Infância", mas é assim que se chama esta ótima história do meu escritor preferido do gênero, Arthur C. Clarke. Para quem não é desse planeta, Clarke foi quem co-escreveu a história do clássico definitivo 2001: uma Odisséia no Espaço, ao lado do diretor da película, Stanley Kubrik. Nascido na Inglaterra em 1917, Clarke serviu na Royal Air Force durante a 2ª Guerra como especialista em rádio, e mais tarde, nos anos 40 graduou-se em física e matemática, tornando-se escritor profissional à partir do começo dos anos 50. Apesar de ser mais conhecido por causa do trabalho em 2001, o autor foi responsável pela escrita de dezenas de livros de ficção e não-ficção, ganhando diversos prêmios literários e sendo considerado parte do Big 3 do Sci-Fi, ao lado de Robert Heilein e Isaac Asimov, além de ter sido responsável por inúmeros contos e artigos científicos. É dele, por exemplo, o artigo Extra-Terrestrial Relays – Can Rocket Stations Give Worldwide Radio Coverage? que lançou as bases teóricas para a concepção dos satélites geo-estacionários que existem hoje. Quando o GPS te ajudar a chegar na pizzaria, agradeça ao velho Arthur. E você aí se achando o nerd master porque assiste Big Bang Theory. Francamente!

Infelizmente é muito difícil encontrar algum livro do Clarke nas livrarias, então sempre que me deparo com algum exemplar acabo comprando, mesmo se não souber direito do que se trata. Até agora me dei bem, não houve um livro deste inglês que eu tenha achado ruim. E foi numa dessas garimpadas que finalmente encontrei "O fim da infância" (Editora Aleph, 2010).

O que eu sabia do livro é que ele se tratava da chegada de enormes discos voadores à Terra, assumindo posições acima das principais cidades do planeta. Sim, você já viu isso. Independence Day começa de forma exatamente igual. Entretanto as semelhanças acabam aí. Enquanto no estúpido filme, dirigido pelo péssimo Roland Emmerich, os alienígenas já chegam quebrando tudo, nesta história suas intenções ficam secretas até o último capítulo.

O Fim da Infância.
(Fonte: http://www.editoraaleph.com.br)
E é exatamente pelo suspense que a trama se move. O livro é separado em três grandes atos. No primeiro, o grande mote é a aparência dos visitantes espaciais. Após sua chegada, seu líder Karellen se manifesta, dizendo que vieram com a missão de levar a humanidade à um novo patamar de paz e prosperidade. Porém se os alienígenas, conhecidos pelos humanos como Senhores Supremos, estão aqui com essas supostas boas intenções, porque não se mostram? O que têm a esconder? Clarke, como é de costume, conduz a história de forma sublime, mostrando como o mundo está depois de 5 anos da chegada das naves.

Toda essa primeira parte é praticamente igual ao conto "Anjo da Guarda" que deu origem ao livro, e sua conclusão é fantástica. Não pensava que poderia ainda hoje me surpreender tanto com a descrição de um espécime alienígena. Este conto, aliás, está presente na edição da Aleph como bônus, assim como uma versão alternativa do primeiro capítulo.

No segundo ato, o mistério se intensifica enquanto parte da humanidade se acostuma com a presença dos Senhores Supremos. Neste cenário aparecem ainda algumas pessoas descontentes com a utopia forçada em que os homens vivem. O que acontece com o desenvolvimento da ciência e das artes quanto a mente não encontra problemas e amarguras para se preocupar? Esta parte do livro começa em uma festa de casamento, décadas depois da chegada das naves. Ali são apresentados os personagens que vão dar prosseguimento à história, cada um explorando uma parte diferente do universo apresentado por Clarke. O casal Greggson é usado para mostrar o lado do cidadão comum em meio à utopia, enquanto o jovem astrônomo Jan Rodricks percorre um caminho através do qual busca o conhecimento total sobre os novos moradores da Terra, em um dos melhores arcos de personagem da história.

Naves imensas chegando.
Pena que a única coisa que Independence Day usou do livro foi essa cena.
(Fonte: 
http://collider.com)
O ato final traz as resoluções a todas as indagações que permearam o livro de forma absolutamente satisfatória, trazendo respostas inteligentes e criativas mesmo quanto a assuntos os quais achei que o autor deixaria passar batidos. Impossível conseguir parar de ler esse eletrizante final, onde finalmente descobrimos tanto em relação aos ETs e ao destino e desenvolvimento da própria humanidade. Cada página traz algo de cair o queixo, até o encerramento da história.

Considero essa uma das melhores obras do autor. Ficção científica bem escrita, cerebral, cheia de suspense e com mais momentos de tensão e aventura do que é costume nos livros do inglês. Apesar de terem momentos que ficaram datados (poxa, o livro foi escrito nos anos 50), o livro transborda inventividade. Agora  só resta torcer para que mais livros de Sir Arthur Clarke saiam no Brasil (por favor, Editora Aleph, termine de relançar a série Rama!) para que nós, fãs de sci-fi, possamos ter em mãos obras tão supremas quanto esta.

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