quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Duas vezes Asimov

Isaac Asimov é muito provavelmente o nome mais famoso da literatura de Ficção Científica. Não é a toa. Este russo naturalizado estadunidense escreveu e editou mais de 500 livros dentre ficção e não ficção, tendo obras lançadas em praticamente todos os campos do conhecimento humano. Entretanto, o "bom doutor" é mais conhecido mesmo por suas histórias sobre robôs (especialmente o clássico Eu, Robô) e a premiada trilogia Fundação. Gosto muito destes livros, mas meus preferidos até agora, dentre tudo que li dele, são Os Próprios Deuses e O Fim da Eternidade.
Isaac Asimov: ótimas ideias e costeletas
Ficção científica é um termo para descrever qualquer livro ou filme que inclua em seu enredo o fator ciência como componente essencial. Há assim certa discussão sobre determinadas obras. Por exemplo, toda a saga Star Wars se passa em mundos estranhos, há a presença de elementos futuristas como naves e robôs (ou melhor, Droids), mas a história está mais para uma aventura ou fantasia do que para a ficção científica em si. Pode-se discutir sobre a essência de muitas obras, mas se há um livro que é ficção científica pura, este é Os Próprios Deuses, de Isaac Asimov.
Os Próprios Deuses é uma história dividida em três grandes atos. No primeiro acompanhamos a descoberta do elemento Plutônio 186, um elemento impossível de existir em nosso universo, e suas aplicações e implicações na sociedade. Ok, você já viu inúmeros personagens de sci-fi pegando espantados algum objeto e dizendo  "este material não existe na Terra!". Asimov levou este conceito anos-luz a frente de seus colegas. É detalhada toda a descoberta do elemento. Se você tiver algum conhecimento de química e física, em especial sobre química analítica, leis da termodinâmica e interações nucleares, vai se extasiar com as longas explicações científicas e debates entre os personagens do livro.
Através do estranho isótopo é descoberta a existência de um universo paralelo ao nosso, onde as leis da física são ligeiramente diferentes. Lá vive outra civilização que tem muito interesse na troca de metais entre os universos como forma de obter energia. O cientista Dr. Frederick Hallam é aclamado como o descobridor do Plutônio 186 e vira uma grande celebridade mundial devido a construção da "bomba de eletróns", responsável pela transmissão de energia entre os mundos paralelos. Entretanto há quem desconfie que ele não seja este grande gênio e que a energia não é tão segura quanto se pensa.
O segundo ato traz a mais genial descrição de alienígenas que já li ou vi. Passado inteiramente no Para-Universo, esta parte da história descreve a vida de seres completamente diferentes de tudo que você conhece. Nada de humanóides ou seres baseados em insetos ou répteis. Os para-homens são seres de uma dimensão onde as leis da física são ligeiramente distintas das nossas, assim seus corpos e sua organização social são também distintas. 
Os para-homens são divididos em dois grupos, os Suaves, com suas tríades formadas por três "sexos", e os misteriosos e mais avançados Durões. No livro acompanhamos a tríade formada pelo Paternal Tritt, pelo Racional Odeen e pela Emocional Dua. Em cada tríade cada um tem suas características bem definidas, entretanto nesta, Dua é considerada uma aberração, uma "emo-esquerdista", ou seja, um ser do grupo Emocional, porém com características de Racional. É Dua quem acaba descobrindo os perigos da "bomba de posítrons" deste universo e tenta acabar com a mesma.
O terceiro ato volta pra o nosso Universo, mais especificamente para a Lua, onde um antigo rival de Hallam, o também cientista Dr. Benjamin Allan Denison tenta restabelecer sua carreira arruinada pelo famoso "pai da bomba de elétrons" enquanto tenta achar uma solução para os perigos da mesma.
O livro, tido pelo próprio autor como seu preferido, é uma das obras de ficção científica mais criativas e bem escritas que já tive em mãos. Indicado para quem se interessa por ciência real.
O Fim da Eternidade é uma história sobre viagens no tempo. O personagem principal, Andrew Harlan, é um Técnico da Eternidade, uma organização que existe "fora do tempo", empenhada em fazer ajustes de realidade em determinados momentos para que a humanidade evolua sem maiores conflitos e sofrimentos. Porém os Técnicos não andam livremente pelos séculos. Idas ao Primitivo, como são chamadas as Eras antes da criação da viagem do tempo, são proibidas. E de alguma forma inexplicável eles não conseguem adentrar entre os séculos LXX e CL. Viagens após o século CL encontram um mundo sem nenhuma civilização.
A vida de Harlan se complica quando se apaixona por Noÿs Lambent, uma mulher que será apagada da existência por uma intervenção em seu século natal. Ao mesmo tempo o Técnico se descobre responsável por um paradoxo temporal que dará a origem à própria Eternidade. 
O livro traz uma das melhores e mais originais histórias sobre viagem que já li, levando mais em conta a viagem em si do que os próprios tempos para quais os viajantes vão. Ao contrário d'Os Próprios Deuses, O Fim da Eternidade é uma obra que acredito que poderia funcionar de forma excepcional nas telas, se conduzida por um bom diretor. Aventura, romance e conspirações numa sólida história de sci-fi com um final surpreendente. Recomendo fortemente não só para amantes do estilo, mas para todos os leitores em busca de uma grande história.

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